MEDIATECA ONSHORE

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macaré

Tchon Tchoma

7-14 Outubro 2018
Casa do Ambiente, Bubaque / Bijagós

Workshop em colaboração com IBAP

“Estátuas Também Morrem”, o filme/panfleto anti-colonial de 1953 de Alain Resnais, Chris Marker e Ghislain Cloquet é uma das primeiras declarações cinematográficas ocidentais contra a prática colonialista de apropriação e extracção dos recursos. Considerado como um dos primeiros filmes anti-racistas conhecidos na cultura cinematográfica ocidental, “Les Statue Meurrent Aussi” aborda de forma perspicaz e poética o principal programa sistémico do colonialismo, seguindo a extracção e musealização de objectos usados em  retirados do seu contexto de origem africana. Embora este possa ser o primeiro filme anti-colonial, as centenas de anos de resistência contra esta violência estão inscritos na arte e nos rituais das culturas saqueadas. O filme foi rapidamente censurado pelo Ministério da Cultura francês. Ainda assim, o filme serve como referência sobre o poder dos meios de comunicação social no relacionamento e criação de contra-retratos.

Os escultores da ilha de Bijagós são conhecidos pelo talento com o qual esculpem as epistemologias animistas em madeira. As suas vidas estão intimamente enredadas com entidades animadas e inanimadas que habitam as 88 ilhas dos Bissagós. O grupo étnico Bijagós desenvolveu uma cosmologia ambientalista que protege a ecologia do arquipélago através da sua sacralização. Neste caso, a madeira esculpida tem sido o meio de comunicação social, inscrevendo o conhecimento para as gerações futuras numa linguagem que não deve ser descodificada por estranhos.

A oficina “Tchon Tchoma” (Chamar o Solo em Crioulo) partiu de uma narrativa: o regresso de uma escultura de Bijagós de Berlim para Bubaque, a ilha onde foi esculpida. Este regresso activa várias problemáticas e levanta questões complicadas: O que é uma ‘escultura de ritual’? O que é uma ‘escultura turística’? Quais são as diferenças entre as duas? O que acontece com a escultura de ritual, quando é roubada do Baloba (templo sagrado de Bijagó) e exposta num museu do Ocidente? O que acontece aos espíritos e entidades sagradas que a habitam? O que significa a restituição? O que significaria reproduzir digitalmente as esculturas e imprimi-las em três dimensões para a musealização? Qual é o seu valor económico e poder social? Se as estátuas também morrem, o que significa para uma escultura estar viva? Qual é a posição dos escultores Bijagós em relação ao trabalho devolvido?

Cadjigue em diálogo com Marinho de Pina e Filipa César criaram uma metodologia de investigação orgânica que incluiu a preparação de questionários, entrevistas, debates, escritos criativos, construção de cenários, especulação, ideias para investigação forense da cena do crime, representação, ficção científica, música, etc. O “Tchon Tchoma” (Chamando o Solo) será eventualmente trabalhado como um estudo de caso experimental que trata questões de restituição dos artefactos artísticos e culturais levados pelos colonialistas sob forma de um filme radical de ficção científica que a Cadjigue irá realizar. Através do humor e da assertividade, pretende revelar várias posições e subjectividades sobre a ferida provocada pela longa prática colonial de apropriação da cultura africana.

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